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ressignificando metas e objetivos

Uma das coisas que mais me desgastou no ano passo foi a busca por um propósito. Desde que cheguei de Los Angeles, a minha cidade do coração, no fim de 2017, eu entendi que precisava desapegar das minhas últimas vivências por lá e me focar em estar aqui.

São Paulo era (e é) a minha realidade e, embora alguma vezes a minha mente ainda viajasse para a Califórnia, eu entendia que desejar estar lá era apenas uma forma de não encarar a minha vida, que precisava de um rumo.

Quando eu me formei da faculdade no fim de 2016, eu já estava um pouco distante do jornalismo e não entendia como eu poderia me encaixar naquele universo. Então, eu mudei o foco e investi em outras áreas em que eu tinha interesse. Fiz alguns cursos livres de moda e até achei, de verdade, que eu viraria consultora de estilo. Estudei o assunto com uma paixão que eu não experimentava há anos. Um pouco depois, surgiu a oportunidade de estudar inglês em Los Angeles e eu fui – porque nunca direi não para essa cidade. Mas, mesmo antes de voltar para o Brasil, eu já estava com medo, exatamente por não ter expectativas muito positivas do que me esperava.

Já no Brasil, eu scrollava o Instagram e achava todo mundo mais interessante, antenado e inteligente que eu. "Como vou competir com essas pessoas?", eu pensava. Por outro lado, eu havia aprendido e me interessado muito por organização e produtividade em 2017 e, assim, todos os meses eu me lançava objetivos para alcançar: desenvolver melhor o meu estilo, explorar meu guarda-roupa, comprar menos, organizar minhas finanças, fazer atividade física 5 vezes por semana, estudar um assunto de interesse uma hora por dia, separar outra hora para vasculhar todas as notícias possíveis, bombar meu ciclo social novamente, convidar uma amiga diferente para jantar por semana, acabar relacionamentos tóxicos... Fiz mapa dos sonhos, intenções de lua nova, metas de longo, médio e curto prazo. 

E aí cheguei no fim de 2018 me sentindo sufocada pelos meus objetivos, que eu tanto achava que precisava alcançar. Alcançar para ser minha melhor versão, alcançar para ser a pessoa que eu quero ser. Eu me apoiava em todos esses (e muitos outros) objetivos para tentar dar um sentido à minha vida, que estava tão, tão vazia. Em 2018, aliás, percebi que o vazio pesa. 

Só que, sinceramente, nenhum desses objetivos realmente me motivava. Eles estavam ali, escritos em listinhas semanais, mensais e anuais, porque eu acreditava (mesmo) que eu precisava ser de uma determinada maneira para ser completa e feliz. Eu, sem saber na época, precisava ser dessa maneira (imensamente idealizada) para me aceitar, porque a minha autocobrança era gigante.

Não me entendam mal, eu sei que é desesperador não ter um motivo para acordar (eu estava sem trabalho, então, de fato, não tinha a obrigação de sair da casa ou até da cama), não ter um propósito para se movimentar, algo para correr atrás. O dia a dia perde um pouco do sentido, já que não fazemos nada (ou pouca coisa) com intenção e presença. As horas vão passando e a verdade é que não faz diferença se é nove da manhã ou oito da noite. Ficamos esperando que algo aconteça para agitar a nossa vida.

Eu fiquei muito tempo nessa situação, embora eu tentasse me enganar com cursos de marketing e de maquiagem (pois é! fiz de tudo), focando na minha alimentação e atividade física, querendo ser a próxima Gracy Barbosa. Risos. Eu ainda volto para essa situação, esse lugar de "perdição", todas as vezes em que eu percebo que um projeto ou uma idéia não era exatamente para ser, não era exatamente para mim. Nesses momentos, não é somente o projeto que perde o sentido, mas tudo que me cerca. Eu me questiono sobre todos os pequenos detalhes que compõem a minha vida – dos amigos às roupas que uso.

Dessa forma, assim que percebo que o fogo com alguma possibilidade de carreira está se apagando, eu me agilizo para bolar um novo plano para a minha vida. Embora na maioria das vezes eu não faça a mínima idéia de como recomeçar, eu me contento com um objetivo pequeninho, tipo tentar ir à academia novamente, tentar meditar ou encontrar a minha verdade – seja lá qual for o significado disso, risos.

Sim, eu já consigo perceber esse ciclo, mas eu ainda não consigo pará-lo. Até porque eu nem sei mais como é ser eu mesma, sem estar planejando, sem estar colocando a vida em ordem – pelo menos na ilusão do papel.

Por outro lado, e tentando me defender, eu acho que recebemos tantas mensagens de que precisamos "get your shit together" e de que podemos mudar as nossas vidas com decisões que é realmente difícil abrir mão desse falso controle. É difícil somente "estar" e "sentir", sem "fazer". Ainda mais quando as frases da moda são coisas, tipo, "se estiver com medo, vai assim mesmo" ou "tudo é possível com a internet"; quando é cool dizer que é muitíssimo ocupada e que " ah! Faz parte do trabalho ter um surto de estress" – ou que "não dá para ficar longe das redes, afinal, estar conectado é parte do nosso job atualmente"; quando não faltam livros que ensinam que devemos fazer um plano de vida, assim como empresas têm planos de negócios.

O detalhe é que a vida é caótica e imprevisível. Adoro a frase que ouvi em uma leitura de tarô no Instagram: "a vida não é uma empresa a ser administrada, mas um mistério a ser vivido". Será que podemos conseguir deixar um pouco de lado o modus operandi yang e abraçar mais o yin? De que controles estamos dispostas a abrir mão?

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