mini

Eu não sou uma empresa; eu não sou uma girl boss; eu sou só uma girl, sem boss(a).

Eu quero fazer um apelo. Na verdade, eu quero fazer uma súplica – sim, é esse o tamanho do meu desespero! Vamos, por favor, parar de tratar seres humanos como empresas, como entidades inanimadas e desalmadas? 

Cada vez que eu leio algo que trata a minha vida como um plano de negócios, minha rotina e os meus hábitos como série de máquinas que precisam ser mais produtivos ou o “sucesso do meu futuro” como um conjunto de métricas que devem ser acompanhadas e analisadas, eu tenho uma enorme vontade de gritar e falar em ordem alfabética todos os palavrões que eu conheço. 

São mais que os meus dedos das mãos (e talvez dos pés) o tanto de abordagem de livros, palestras ou vídeos no Youtube que buscam ajudar o nosso “desenvolvimento pessoal” com perguntas que tentam ordenar algo que é naturalmente caótico: a vida. 

sobre mim e, meu amigo, o vazio

Mas eu não caí nesse mundo maluco de “seja a melhor versão de você” à toa. Desde que saí de casa  em 2013 para fazer a faculdade, eu notei que a terra prometida do “futuro incrível” não existia. Melhor dizendo, eu senti que o futuro incrível não existia, mas eu me demorei para entender, de fato, esse conceito.

Já no primeiro ano da faculdade, eu me abalei com a percepção de que algo ainda me faltava, mesmo ultrapassando o infernal ensino médio e ano pré-vestibular. A vida na faculdade não era tão divertida quanto me prometeram. Ali, começava a se formar em mim os espaços ocos que cinco anos depois se multiplicaram e se transmutaram para um completo vazio. O vazio me consumiu.

Algo que começou com uma dúvida se eu estava trilhando o caminho certo ("será que escolhi a faculdade certa? a cidade certa?") finalizou com um desgaste completo da minha essência. Sei que “essência" parece papo de doido, mas eu estava desgastada. Na verdade, acho que não consigo nem dizer que ainda existia um “eu” nesse corpo que perambulava por aí –  e perambulava, assim, de vez em nunca. 

Nos últimos cinco anos, eu me vi alcançando todos os meus maiores sonhos de infância e adolescência (sem deixar nenhum deles de lado; eu literalmente, alcancei tudo que queria quando menina), mas eu também me via acordando no meio da noite com o coração acelerado; eu me virando noites sem dormir. Eu me vi perdendo o desejo de sair de casa e ver pessoas; eu me vi desesperada para achar um propósito – eu só queria que alguém me indicasse um caminho, que alguém me falasse algo para ir atrás. Eu não tinha nenhuma motivação, e eu não conseguia aceitar isso. 

Acho que eu estava meio morta. E, como alguém que lida com o medo da morte há anos, acho que era por isso que eu estava o tempo inteiro apavorada. A morte, de certa forma, tinha chegado. 

Em 2018, eu não passei um dia sequer sem me perguntar “e agora?”. E, pior ainda, sem sentir a pressão de não saber a reposta. Não saber a resposta do que me move, do que eu gosto, do que eu não gosto, do que eu faço e sei fazer, do que quero. Pontos fortes, pontos fracos e all that bullshit. “Mas tu não quer ser jornalista?”, “Então o que tu quer fazer?”, “Por que tu não faz mais cursos?”. Argh. Percebam: eu pedi para as pessoas me apontarem um caminho, mas cada vez que elas o faziam, eu só queria dar um tapa na cara delas. O caminho delas não era o meu.

Nesse ponto, eu já tinha lido muitos livros e artigos, já tinha respondido incontáveis questionários, já tinha ouvido muitos podcasts e palestras. Já tinha dado um sorrisinho falso cada vez que uma amiga me perguntava “E os planos? Quais são?”. Não sei, vadia. Zueira, te amo. Mas vaza. 

Sinceramente, não quero olhar para trás e me crucificar por ido atrás dessas ferramentas, de ter feitos metas de longo, médio e curto prazo (mesmo sabendo que nada nessas listas de metas realmente me preenchia). Sei que nesse processo, descobri paradas importantes sobre mim. 

Mas cansei de ver gente ser tratada como S.A. A gente tem nome. A gente tem história. A gente tem dúvida, a gente é o caos. A gente nasceu do caos, de uma explosão – do nada viramos tudo; tudo que já existe. Então sabe aquela meta de 10 anos? "Tudo" vai ser muito diferente quando a gente chegar lá. 
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