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Anitta, a gente e contraditoriedade


Foto retirada da página Minions Sinceros

Comentaram (não uma mas várias bocas) que Anitta era, no mínimo, contraditória. Uma mulher que canta sobre ser poderosa e sobre poder fazer os homens de palhaço deveria saber que as mulheres são independentes para tomar as escolhas que elas quiserem. Imagine então, uma mulher que rebola com a bunda no pau dos dançarinos falar para as outras que elas deveriam ser dar ao respeito! Hipocrisia maior ainda pelo o fato de ela explorar o corpo e sua sensualidade para vender músicas e fazer sucesso. No final, não importa nem se ela estava certa ou errada, o que é realmente importante é que Anitta, sendo o que é e fazendo o que faz, nunca poderia ter falado nada do que falou.

Eu peço desculpa por quebrar as expectativas de vocês, mas aqui é a parte em que eu declaro que importa. Pitty estar certa importa. Anitta estava errada, mas ela não falou nada desassociado do pensamento comum de grande parte da população brasileira. A não ser que eu tenha dormido por muito tempo e não tenha me dado conta de que agora todo mundo já está convicto que as mulheres são livres e independentes; que suas atitudes não devem ser discriminadas pelo seu gênero. No brasil, mulheres e homens não gozam dos mesmo direitos. Mulheres ainda são submetidas a certos julgamentos que não sofreriam caso fossem homens. Crianças são educadas de maneira distinta: meninas usam rosa, brincam de boneca, devem sentar de pernas fechadas, não podem levar o namorado pra casa, muito menos saírem sem o irmão; meninos, quanto mais a perna tiver aberta mais macho são, se usarem rosa e brincarem de boneca alguma coisa está estranha, são ensinados sobre "a arte da conquista" desde cedo.



Na mesma semana em que saíram as primeiras notícias sobre o bafafá que rolou no Altas Horas foi divulgado o resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon nas cinco grandes regiões do Brasil. Foram consultados 2.046 jovens, homens e mulheres, entre 16 e 24 anos dos quais 48% responderam que mulher sair sem o namorado é errado, 80% de que mulher ficar bêbada na balada é feio, 68% repudiam as mulheres que fazer sexo no primeiro encontro e 76% criticaram as que tem mais de um ficante. Contudo, pasmem: 96% afirmaram viver em uma sociedade machista.

O caso ocorrido no programa de Serginho Groisman e sua repercussão é apenas um exemplo cotidiano dos dados divulgados na pesquisa citada acima. É muito fácil concordar com a Pitty dizendo "quem tem que fazer o que você quer é você!" e foda-se a opinião dos homens. Difícil é colocar isso em prática: deixar as mulheres encherem a cara sem julgá-las, parar de chamar a coleguinha de puta porque ficou com 700 caras da mesma noite ou porque "dava para ver o útero dela através da saia". Se você não curte essas atitudes, não faça, mas a deixa a pessoa em paz.

Eu poderia ir mais embaixo do buraco e dizer que muitas vezes essas atitudes são condicionadas por concepções já estabelecidas na sociedade como, por exemplo, pra fazer sucesso na balada é preferível estar com uma roupa que valorize seu corpo (ou seja, JUSTA), maquiada e de salto (porque os homens preferem assim). O mesmo vale para a indústria da música que muitas vezes CONDICIONA as cantoras a utilizarem o seu corpo para fazer sucesso. Muitas vezes isso já vem estabelecido, não sendo, portanto uma escolha das artistas. Tanto que quando elas conseguem alguma estabilidade, ganham maior liberdade e passam a falar de temas de seu interesse. Quanto chão a Beyoncé não teve que percorrer pra colocar um trecho da Ngozi Adichie em uma de suas músicas? Será que isso seria possível logo no seu primeiro cd? Eu acho que não. Antes ela teve que ser aceita.

Um exemplo brasileiro é a Valeska que antes participava do Gaiola das Popozudas (grupo de alto teor sexual feito para agradar principalmente ao público masculino) e agora canta "tá pra nascer o homem que vai mandar em mim". Mas eu deixo isso para outro momento.

Portanto, os próprios comentários que citei no primeiro parágrafo chegam a ser contraditórios. Criticar Anitta é válido apenas se for para debater o quanto o conceito que trabalha é retrógrado e machista, aliás, é uma reprodução do machismo que sofre. Mas no momento em que a criticamos a partir de suas atitudes também somos hipócritas. Pois ao contrário de deixá-la fazer o que bem quiser, a julgamos.

Houveram comentários do tipo "isso que dá colocar uma funkeira para debater" ou "falou a mulher que dança funk", entrando em outra questão preconceituosa de que esse gênero musical não é para "mulheres de bem", como se isso existisse. Fica parecendo que a mulher só pode fazer o que quiser se ela for "decente", como a Pitty que usa "roupas adequadas" e canta sem rebolar. Mas a real é: a mulher faz o que ela quiser MESMO e isso inclui rebolar no palco se ela quiser.

Funk x Rock? Na foto, Valeska e Pitty mandando um beijinho no ombro pro recalque passar longe.

É sempre bom ver que mais e mais pessoas repudiam comentários como os feito por Anitta, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. E reparar nos detalhes de situações como essa é um início! Ao invés de criticar, vamos fazer que nem a Pitty e chamar as amiga pra conversar!
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